segunda-feira, 23 de julho de 2012

Sinto saudades...


Sinto saudades de um tempo lá atrás...
Sinto saudades de quando éramos dez: cinco meninas e cinco meninos.
Sinto saudades de nossa rua, nossas calçadas, nossas conversas até altas horas, nosso jogo de dominó, nossas festinhas e farras inocentes.

Sinto saudades de quando éramos dez, e eu tinha que cantar a música predileta de cada um. Sinto saudade das serestas e dos micos que pagava, quando me chamavam pra cantar.
Sinto saudades de quando éramos dez, dos nossos risos fáceis, da falta de preocupação, da coragem de viver as emoções, da transparência para com os sentimentos. Falávamos de tudo, brincávamos com tudo, mas sentimento era coisa séria, não era de se brincar.

Aconteceu de eu e uma das meninas nos apaixonarmos pelo mesmo menino.
Ainda assim, permanecemos leais uma à outra... Somos até hoje.
Nenhuma de nós conseguiu namorá-lo e seguimos todos como caros amigos.

Apaixonar... era verbo fácil naquela época. Mas quando não dava certo, fácil também era desapaixonar. Não sofríamos tanto, não sentíamos tantas dores de amor.
No tempo em que éramos dez, “gostar” era sinônimo de respeito, carinho, lealdade, partilha, companheirismo, sinceridade, cortesia, delicadeza... E não se permitiam dúvidas: “gostar” nunca foi talvez, quem sabe, pode ser, será...

E tudo era vivido e sentido sem medo, sem meias verdades, sem fingimento, sem manipulação.

Tínhamos poucos recursos e pais rígidos. Então, vivíamos cada segundo de liberdade, cada momento em grupo, cada oportunidade de celebrar a vida com intensa alegria, prazer e solidariedade – se um pai não permitia, ninguém saía. E nos conformávamos com a nossa calçada. O que valia, mesmo, era o afeto que permanecia, a amizade que crescia, o sorriso que insistia... Quando éramos dez, jamais perdíamos a alegria.

Sinto saudades daquele tempo, dos amigos que raramente vejo. Sinto saudades, sobretudo, de viver com lealdade, com sentimentos transparentes, de viver com respeito e cuidado pelo outro. Hoje, as pessoas raramente cuidam umas das outras, raramente se importam com o que o outro sente...

Sinto saudades de quando éramos dez, da história que construímos, dos laços que criamos, de tudo que partilhamos.

Com o passar dos anos, os dez foram se multiplicando, e, aos poucos, formando suas famílias, seus grupos para uma vida inteira. Sobrei cá eu e mais um, hoje apartado de nós. E para nós, que não formamos nossa continuidade, nos restou apenas a saudade.

Sinto saudades...
Saudade de um tempo sem mágoas, sem maldade... Saudade de um tempo feliz... de verdade. Saudade dos meus amores leais, saudade de quando éramos dez...

[Dedicado aos primeiros amores da minha vida, com quem vivi um amor leal e verdadeiramente correspondido: Rita, Sueli, Sirleyde, Neidinha, Adilson, Flávio, Fábio, Dindinho e Daniel]

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