domingo, 21 de outubro de 2012

Se quiseres vir, venhas...

Se quiseres vir, venhas... és a minha memória da pele...


Se quiseres vir, venhas... o que está aqui guardado, basta um toque teu para acordar e eclodir.
Se quiseres vir, venhas... inteiro, com vontade, pronto para se deixar ficar, não mais partir.
Se quiseres vir, venhas... mas não me toques apenas para saciar teu desejo, matar tua saudade.
Se quiseres vir, venhas... só não me faças acreditar no impossível, só venhas se for de verdade.

Se quiseres vir, venhas... não importa o que ficou para trás, o que deixou de ser vivido.
Se quiseres vir, venhas... eu sei que o meu sentimento ainda existe, está apenas adormecido.
Se quiseres vir, venhas... sempre disseram que nossa história um dia precisaria acontecer.
Se quiseres vir, venhas... só não sei se consigo ter a ilusão de que a teu lado eu possa viver.

Se quiseres vir, venhas... viveremos tudo do começo, desde lá do tempo de nossa adolescência.
Se quiseres vir, venhas... foi em ti que investi meus sonhos, foi contigo que perdia a inocência.
Se quiseres vir, venhas... mas venhas sem olhar para trás, sem dúvidas nem arrependimentos.
Se quiseres vir, venhas... vamos viver com intensidade, vamos nos entregar com todo sentimento.

Se quiseres vir, venhas... sabes que de um jeito ou de outro continuas fazendo parte de mim.
Se quiseres vir, venhas... desde os meus onze anos, entendi que este sentimento jamais teria fim.
Se quiseres vir, venhas... mas não me acendas a fogueira se não for para domar o fogo.
Se quiseres vir, venhas... mas não me enredes em teus braços, não faças de mim um jogo.

Se quiseres vir, venhas... estes versos, tu bem sabes, só inspirada em ti posso escrever.
Se quiseres vir, venhas... não penso em outra coisa, senão no que pode entre nós acontecer.
Se quiseres vir, venhas... minh’alma sorriu só em sentir teu cheiro, teu toque, teu jeito sedutor.
Se quiseres vir, venhas... guardei meu sentimento, tentei te esquecer, mas ainda é vivo este amor.

Se quiseres vir, venhas... alguma razão há de ter o fato de certas lembranças guardares.
Se quiseres vir, venhas... estou certa de que transito em teus pensamentos por todos os lugares.
Se quiseres vir, venhas... os anos passam, envelhecemos, e o que nos une ainda está aqui.
Se quiseres vir, venhas... ficarei te esperando, qual roupa ao sol quarando, serei tua até o fim.


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Aos mestres que tivemos... E aos que somos...


Hoje é dia de homenagear ao pai de todas as profissões, a quem chamamos de mestre.
Ele entende de cores, de matemática, de arquitetura, de flores, até de pintura rupestre.
Hoje é dia de saudar a quem nos ensinou o be-a-ba, a primeira frase, o primeiro contar.
Quem nos mostrou os caminhos das letras, dos números, do dividir e do somar.

Sua trajetória é árdua, tem passos corriqueiros, que precisam ser reinventados a cada dia.
Às vezes começam por uma história, adentram nas artes, religião, física, ciências, geografia.
Falam de literatura e gramática, com a química auxiliam a vida em seus laboratórios.
Assim nascem os escritores, os cientistas, os médicos, artistas no palco de seus consultórios.

Saudemos hoje a primeira professorinha, o diretor da escola, o reitor da faculdade.
Saudemos os mestres que tivemos, o aprendizado que vivemos, um tempo de saudade.
Saudemos ainda os mestres sem instrução formal, cujo conhecimento aprenderam na lida.
São professores sem capelo, doutores sem diploma, ensinam o apreendido na escola da vida.

Seja advogado, engenheiro, delegado, agricultor, marceneiro, veterinário, mecânico ou pintor.
Seja das artes, da ciência, do campo, da oficina, seja da farmácia, medicina, cozinheiro ou escritor.
Vós, mestres dedicados, que mesmo mal remunerados, com amor sustentam a sua vocação.
Gritem alto, com firmeza: "_somos professores, com certeza, amamos a nossa profissão".


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Saudando nosso tempo de criança...


... e a menina que mora em mim

No meu tempo de criança, não dispúnhamos de tanta tecnologia, os nossos brinquedos eram muitas vezes por nós mesmos construídos. Nossas pipas, nossos carrinhos de madeira, nossos patinetes, nossas bonecas de pano, nossas bolas e barquinhos de papel. Brincávamos e cultivávamos nosso jeito moleque, às vezes arteiro, mas sempre carregado de inocência. As competições eram os jogos com bolas-de-gude, virar figurinhas (o velho bafo), jogar pião; jogávamos dominó, ludo, tabuleiro de damas; fazíamos jogos de vocabulários, como o famoso “nome, lugar, objeto...”; brincávamos de barra-bandeira, seu rei mandou dizer e pique-esconde. Também fazíamos nossas artes, é verdade. Quem nunca tocou uma cigarra e correu léguas para não ser descoberto? Quem nunca roubou uma fruta do quintal do vizinho? Quem nunca chutou uma lata enquanto alcançava o caminho de casa? Quem nunca fugiu de um castigo para juntar-se aos amigos nas brincadeiras de rua? No meu tempo de criança, não tínhamos computadores, não sabíamos o que era o videogame. Nossas bolas eram as mais simples, as nossas bonecas eram as Wanderleias, com o cabelo de fuá. Saudade dos carrinhos de rolimã, do conjunto de panelinhas, das pipas feitas com papel de seda e tiras de coqueiro. Na televisão, curtíamos o programa Vila Sésamo, o Sítio do Pica-pau Amarelo, a TV Globinho... Os nossos shoppings eram os zoológicos, os parques de bairro, os circos de lona montados num campo de futebol de várzea, as praças das cidades, os quintais das casas de nossos avós. Não tínhamos Ipod, Mp5, Itunes. Nossas cantigas se davam no gogó, durante as brincadeiras de roda, nos bate-papos nas calçadas, nas festas da escola. No meu tempo de criança, cupcake era o bolo-de-bacia; tomávamos mais sucos e caldo de cana do que refrigerante; ao invés de brownies, cookies e trufas, nos deliciávamos com o doce japonês, o pirulito de caramelo no tabuleiro e o cavaquinho, que, no fundo, não tinha gosto de nada, mas todo mundo ficava louco quando o “homem do cavaquinho” passava. O bife com batatas, arroz e feijão da nossa mãe era mais disputado que rodízio de pizza na promoção. No meu tempo de criança, costumávamos fazer as refeições com a família inteira, todos sentados em volta da mesa. Respeitávamos os mais velhos, cumprimentávamos mais as pessoas, pedíamos “a benção” aos nossos pais, avós, tios, padrinhos... No meu tempo de criança, éramos, de fato, criança, se preparando para a idade adulta. Hoje, as crianças se tornam adultas antes do tempo e depois lamentam não poder mais voltar à idade da inocência. Neste dia especial, meus versos são dedicados às crianças da nossa época, mas, especialmente, à criança que fui e à criança que ainda sou, disfarçada numa fantasia de mulher.

A criança que mora em mim tem bichinhos de pelúcia, brinca de bonecas, de casinha.
A criança que mora em mim ainda é moleca e quer roubar frutas no quintal da vizinha.
A mulher que hoje sou ainda sonha com o brinquedo que nunca ganhou.
A mulher que me tornei ainda se entristece pelos projetos que não conquistou.

A criança que fui queria ser uma pessoa forte, decidida, desbravadora.
A criança que fui era sorridente, tímida, porém tagarela e sonhadora.
A mulher que vive em mim se mostra inocente, tem medo do silêncio e da escuridão.
A mulher que sou viveu as dores que sua criança jamais sentiu no coração.

A criança que mora em mim anseia em voltar um dia ao passado e viver tudo outra vez.
A criança que em mim adormece quer rever suas molecagens e fazer tudo que não fez.
A mulher que hoje sou me pede seriedade, firmeza e paciência exige de mim.
A mulher que me tornei levará as traquinagens de sua criança interior até o fim.


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Ao Povo Nordestino...

Nordestino, sim sinhô...


Hoje é dia do nordestino, povo paidégua, que assume sua origem sem fuleragem.
Um povo que mesmo sofrendo é presepeiro, mungangueiro e cheio de coragem.
Hoje é dia do nordestino, que sai de casa desde menino buscando sucesso na cidade.
Longe do seu povo, não dá corda ao sofrimento, mas chora escondido, roxinho de saudade.

Hoje é dia do nordestino, povo arretado, batalhador, sem fricote, sem pantim.
Adora charque com macaxeira, que por aí botaram o nome de carne seca e aipim.
Hoje é dia do nordestino, que ao ouvir o cacarejo do galo, bate palmas pro nascer do sol.
Onde é a lida não importa, seja na cidade ou na roça, ele tem por companhia o cantar do rouxinol.

Hoje é dia do nordestino, cabra macho, que doma cavalo xucro, vaca, boi e garrote.
Sujeito brabo, bom de peleja, que um bom chamego não enjeita nem um fungado no cangote.
Hoje é dia do nordestino, que tem uma ruma de remelento correndo solto no quintal.
Povo forte, cheio de fé no Padim Ciço, que ainda pesca com caniço e come manga com sal.

Hoje é dia do nordestino, do sertão, da macambira, do xique-xique, do solo rachado.
Hoje é dia da folia de reis, do maracatu, do samba de crioula, do frevo, do congado.
Hoje é dia de um povo que dança, que faz festa, se encanta e não foge de briga.
Mesmo quando a chuva não vem, quando a comida rareia, mesmo quando o cansaço castiga.

Hoje é dia do nordestino, home véi, seu menino, não me apoquente que eu tô avexado!
Já botei holandês pra corrê na ponta da minha peixeira, e ainda comi cuscuz com bode guisado.
Não bula comigo, que num levo desaforo, dô-le na taba do quêxo, faço seu zóio virá.
Danço um xaxado na sua cova, chamo Lampião e Gonzaga, boto os dois pra lhe assombrá.

Hoje eu quero um baião de dois cearense, o acarajé da baiana, a pata de uçá alagoana.
Quero um capote piauiense, o arroz-de-cuxá maranhense, uma mariscada sergipana.
Chama o rubacão paraibano, desce uma lapada de cana e ginga com tapioca potiguar!
Arremato com bolo de rolo da minha terra, de bucho cheio eu faço festa até o dia clarear.