quarta-feira, 30 de março de 2016

O horror que nos assombra

52 anos de uma infeliz madrugada de 1964...


[Fonte: www.infinitesimoimprescindivel.blogspot.com]

Eu só viria ao mundo 3 anos depois, mas quando me entendi de gente, por assim dizer, tomei consciência política e me alimentei do valor que é lutar pelo que é justo e igualitário, senti a dor daqueles que não puderam velar os seus mortos, dos que tiveram suas vidas ceifadas por expressarem suas opiniões, por lutarem por suas crenças, pelo desejo de justiça social...

Era madrugada de 31 de março de 1964... e o terror tomou conta do País. Os que sobreviveram deixaram para trás suas casas, suas famílias, morreram um pouco em vida. Alguns nunca mais voltaram... senão para serem enterrados no solo em que nasceram. Os setores mais organizados e politicamente mobilizados também sofreram suas baixas, foram violentamente reprimidos em suas ações. Pessoas foram presas, irregularmente, torturadas, curradas, violentadas. O Nordeste foi a região mais atingida. As ruas de Recife ainda trazem o remorso pela pele arrancada de Gregório Bezerra, que por elas fora amarrado e arrastado.


Naquele abril de 1964, o tal ‘Ato Institucional’, que deveria ser chamado de ‘Inconstitucional’, foi utilizado para justificar o que não tinha aparato jurídico, o injustificável. Pessoas foram destituídas de seus direitos, foram cassadas, caladas, perseguidas, jogadas ao ostracismo, atingidas em seus brios. Feriram de morte o processo democrático.

Os militares diziam ter como objetivo restaurar a ordem, a segurança, a disciplina e deter o que eles denominavam de “ameaça comunista”... a custa de sangue, tortura e morte. Disciplina? Ordem? Segurança? Os rotos (para não dizer os ratos) especulando os esfarrapados.

O tempo passou, os sobreviventes renovaram as energias e retomaram as lutas. Os direitos foram reconquistados, a democracia, enfim, foi retomada. ‘Golpe’ parecia, por longas eras, apenas um verbete no dicionário. Mas ainda há muitas e velhas raposas empoderadas, que insistem em reabrir as feridas e instituir outra vez o caos.

Os que se manifestaram em favor daquele período de horror ainda são os da mesma espécie, e se vestem de um ódio ainda mais exacerbado. Acharam pouco a justiça cega, e a violaram. São capazes de negar socorro, se o pensamento do outro for ao seu contrário. São tiranos, incitadores de violência, indignados porque a força é de todos, o poder de voz é livre e se pode expressá-lo. São rotuladores da vontade alheia, dão veredictos sem julgamentos, mas sequer julgam seus atos, todos tão indefensáveis.

Infelizmente... as cortinas não se fecharam como pensávamos. O filme continua em tela... fora apenas remodelado e, tão perigosamente quanto no passado, se desenha mais bem articulado.

Resta-nos seguir na luta pela manutenção do processo democrático, pelo direito de ser, ir, vir, pensar, escolher e praticar.

Liberdade, Liberdade... mantenha suas asas abertas sobre nós!
Que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz!

terça-feira, 29 de março de 2016

Vermelho...

O peso por detrás de uma cor...

[Fonte: www.reikianos.com.br]

Seu nome vem da palavra pequeno verme, vermis, na língua latina. Desde a criação do mundo, o pobre vermelho vagueia entre o bem e o que denominam de ‘mal’. Se por um lado significou fertilidade e sorte, por outro já foi a cor atribuída a Seth, o deus da violência. Representava a luta também... Talvez por seu apelido, ‘encarnado’, dar cor ao sangue encravado nas veias. Na verdade, tudo o que o vermelho queria era ser apenas uma cor. E foi...
Houve um tempo em que vermelho era conhecido por descrever os planetas e as grandes estrelas, por colorir os vegetais, minerais, a pele, as escamas, os pelos, as penas. No século XIX, ficou famoso, juntou-se ao negro e deu origem a um célebre romance francês de Henri-Marie Beyle, o igualmente célebre Stendhal – Le rouge et le noir.
Houve um tempo em que vermelho, quando em par ou trio com outras cores, representava times de futebol. Na plumagem das aves, poderia ser apenas um Galo de Campina, um Sanhaçu-escarlate, um Cardeal... Nas bandeiras, viajava a todos os continentes... quando dominava o espaço, poderia ser a China, e se misturado a outras cores, poderia ser França, Itália, Portugal, Canadá, Bósnia e Herzegovina, Angola, Camarões, Eritreia, Bermudas, Chile, Colômbia, Barein, Armênia, Birmânia... Já se vestiu até de boi do folclore da Ilha Tupinambarana.
Houve um tempo em que vermelho era sinônimo de timidez e fazia corar os mais embaraçados, simbolizava o amor, os corações entrelaçados. Era apenas uma opção de cor para quem o apreciava e não temia ser notado e ‘rotulado’... e agredido e humilhado...
O desrespeito é tamanho, a arrogância é tão tacanha, os julgamentos impostos aos outros por uma leva de condenados é coisa tão vil, que eu me avermelho de vergonha pelo vermelho desconfigurado em seu real significado... tão somente um cor.
Tal como o mundo caminha, eu me questiono se ainda me é permitido o menstruar saudável, posto que o sentido atribuído ora ao ‘vermelho’ tomou o rumo do ódio semanticamente desqualificado.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Será a crise...?

Pensando cá... com meus botões e fechos-éclair...

[Fonte: www.informamidia.com.br]


A cada dez frases proferidas nos últimos meses, em nove delas encontramos o bordão: ‘é a crise’! As pessoas me pedem orçamento para revisão de produções acadêmicas, e mesmo depois de negociados os descontos, justificam sua ‘penúria’ com o tal de: “é a crise!” Muitos, de fato, se encontram em situação de pouca monta. Outros, no entanto, não valorizam o trabalho alheio e escondem a sua ‘parcimônia’ por detrás do internalizado mote.

A crise é fato, ela existe. Muitos setores foram afetados, o crescimento tartaruga em seus passos, embora eu tenha cá pra mim que há muito caroço por baixo deste angu. De minha parte, eu confesso que não a sinto. Eu não a vivo. Nada mudou em minha vida. Não há diferença entre o antes e durante a crise em meu viver. Não deixei de viver ou consumir nada do que tive vontade e precisei. Em alguns casos, até, extrapolei. É certo que batalho para isto, mas se batalho é porque batalhas não me faltam, graças a Deus!

Observando o entorno, eu também não vejo o imperar da bendita crise, tal como a propagam e tentam incutir na mente do povo... sobretudo do mais ingênuo. No meu ambiente de trabalho, se ela quis entrar, não lhe abriram as portas, porque o crescimento por estas bandas segue seu caminho com passos firmes, largos, contínuos e longe, bem longe de estagnação. Os meus amigos continuam viajando, comprando, se alimentando bem, procurando investir... crescendo. Vejo bares e restaurantes repleto de pessoas, shoppings abarrotados, supermercados com filas a dar com o pau e não tenho conhecimento de um show adiado por falta de venda dos ingressos. Ovos de Páscoa à venda? Só os quebrados. Se no início do mês os chocolates dos coelhos eram tidos como os vilões do orçamento pascal, só escapou nas prateleira aquele que de tão apalpado se viu esfacelado.

No feriado da Páscoa, a Arena Pernambuco esteve lotada com o jogo da seleção brasileira de futebol. As estradas se esticaram em congestionamentos quilométricos. O espetáculo da Paixão de Cristo foi encenado para milhares de pessoas do País inteiro, durante oito dias. Os shows na cidade de Gravatá, com ingressos custando a bagatela de R$ 150,00, estiveram repletos de esfuziantes baladeiros, ávidos por sacudir seus esqueletos e já sonhando com o próximo feriado prolongado e novos eventos programados.

E eu me pergunto: onde está a crise? O que se entende por crise? Será que se aprendeu, assim, tão bem a viver em crise? É tema para um estudo de caso. Por favor, reúnam a cúpula de cientistas!

Eu cá comigo estou pensando que a crise pode ser...
De diarreia, de verme... talvez... o povo engole de tudo e às vezes não seleciona o que come.
De coluna... quem sabe... porque até banquinho no espetinho da esquina é só para quem chega cedo, mas ninguém perde um churrasquinho de gato ao final do expediente.
Pelo visto... a crise... nem de garganta... haja vista o estridente esgoelar das moçoilas enlouquecidas por um cabra com a alcunha de Safadão... Eu dou por vista se ele não fosse um sujeito ‘safado’!

Eis a arte de viver ‘na crise’... Como? Eu faço minhas as palavras do sábio Chicó: não sei, só sei que é assim.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Entre mártires e falsos heróis

Talvez tudo tenha começado com ‘30 míseras moedas de prata’...

[Fonte: www.desmotivaciones.es]

Desde então, a história é marcada por lutas pelo bem comum, pela justiça social, pela paz, pela igualdade entre os homens, pela equidade, o julgamento justo, imparcial, apartidário... Mal e bem em eterna peleja...
Justiça... parece um termo que caiu no vulgarismo, tornou-se banal... Cada um a trata segundo os seus interesses, outros usam de sua prerrogativa de autoridade maior para vomitar arbitrariedades... São os vilões, travestidos de paladinos da justiça, que justificam os meios pelos fins... E não se percebem iníquos... Pior: muitos não percebem quem eles são, de fato.
Doloroso é saber que nunca será fácil, nunca será justo, nunca será diferente... Enquanto houver um Tiradentes, haverá inúmeros Joaquim Silvério dos Reis. Enquanto houver um Antônio Conselheiro, proclamar-se-ão muitas guerras de Canudos. Enquanto houver Maria Camarão, Maria Quitéria, Maria Clara e Joaquina (as guerreiras de Tejucupapo), haverá uma centena de Calabares. Para cada Salvador Allende, milhares de Pinochets. Enquanto houver um Miguel Arraes, muitos Dias Fernandes e Justino Alves usarão de sua força para impedir que o bem esteja a serviço de todos...
Só nos resta seguir... sem perder a vontade de lutar, pacificamente e com fé, por aquilo que acreditamos. Sem perder os nossos valores. Sem nos deixar levar pelo engodo das ações daqueles que, hipócritas que são, mancham de vergonha os seus juramentos. Sem perder a memória, e levar em conta as dolorosas lutas do passado.
Que o primeiro de abril de 2016 não revisite aquele de 1964. E que não nos iludamos... lembremos que quando Júlio César se deu conta, era Brutus... e já era tarde demais...

segunda-feira, 7 de março de 2016

A Reviravolta dos Valores

Parece, mas não é o título de um livro ou de um longa-metragem. E também não é truque de ilusionista. De fato, está tudo fora do lugar...

Fonte: (www.profederpessoa.blogspot.com)


É uma pena que seja o retrato da vida real, não apenas uma imagem na tela do cinema. Parafraseando Nelson Rodrigues, é “A vida... como ela tem sido”.

Os aplausos de agora vão para quem faz escárnio do outro, para quem humilha, desdenha, discrimina... Valoriza-se mais o arrogante, o mesquinho, do que aquele que traz brandura na alma, que trata o outro com respeito. Fazer o mal, em muitos ambientes, é a competência mais apreciada.

Um líder, na essência da palavra, não é mais aquele condutor de um grupo, mas o dono dele. Não é aquele que trabalha junto com seus liderados, mas aquele que simplesmente manda que sigam suas ordens. As modernas senzalas estão abarrotadas de 'libertos' iludidos, por vezes armadilhados pela sobrevivência, comandados por falsos senhores.

Os tempos modernos trouxeram uma arma poderosa, e mais letal do que aquelas fabricadas com o uso das mais aprimoradas tecnologias: o dedo em riste. As pessoas se transformam em segundos em juízes, batedores de martelo, proclamadores de sentença, sem testar o pressuposto da dúvida, sem oportunizar a defesa, e, principalmente, se esquecendo de observar o seu rastro de ilicitudes. Basta um boato e se mata um inocente. Era bom quando apenas a grama do outro era mais verde. Era só um sinal de inconformismo. Agora é: ‘ele tem mais culpa que eu, então isto me exime de qualquer dolo’.

Os critérios de equidade e justiça não mais atingem a todos, apenas alguns ‘eleitos’ têm direito a elas. Os olhares são mais voltados aos próprios umbigos. A empatia perde mais força a cada dia. A leitura se distancia, a busca pela informação válida e útil é prática de poucos. A ponderação e o diálogo franco, apreciativo, aberto, isento de hipóteses e julgamentos são exercícios obsoletos. A reflexão virou coisa de alienado. Não se gera mais aprendizado. Lições aprendidas são coisas do passado, guardadas no porão de um museu qualquer. Assunção de causalidade? Mudemos de assunto...

Estamos perdendo a essência do que é ‘ser humano’ e nos perdendo em nós mesmos. Estamos nos afastando do Evangelho. Estamos batendo bifes na tábua dos mandamentos, fazendo caça-palavras com as escrituras, vivendo uma Quaresma às avessas... Estamos nos crucificando uns aos outros, sem estarmos atentos de que para nós não haverá Aleluia, nem Páscoa, nem ressurreição...