Talvez
eu seja romântica demais, talvez eu seja ingênua demais, mas...
Talvez eu seja
romântica demais, talvez eu seja ingênua demais... mas não consigo compreender por
que as pessoas vão às ruas, dizendo lutar por direitos, mas se esquecem dos seus
deveres. Não consigo entender como se destrói algo que é de uso próprio. Não consigo
aceitar que destruam patrimônios antes tão exigidos como direito de todos. As pessoas
lutaram a vida inteira por democracia, por liberdade de expressão, mas não sabem
como, de fato, se lida com elas. E não venham me dizer que a culpa é do Estado,
que não lhes oferece condições de aprendizado. Certos exercícios são aprendidos
dentro de nossas próprias casas, não dependem do ensino formal, não é obrigação
do ambiente escolar. Fazendo uso da metáfora, eu costumo dizer que se tenho
todos os dentes íntegros em minha boca, não uso prótese, é porque nunca
respondi aos meus pais, porque jamais deixei de exercitar o respeito que me foi
ensinado por eles, desde os tempos de eu menina.
Talvez eu seja
romântica demais, talvez eu seja ingênua demais... mas tenho saudade de um
tempo em que muitos sofreram punições, infelizmente, mas lutavam brava e
limpamente por direitos, para serem ouvidos, para lerem Eça de Queiroz
livremente num banco de praça. Tenho saudade de um tempo em que as pessoas iam
às ruas mostrando suas faces, às vezes coloridas, mas jamais mascaradas.
Talvez eu seja
romântica demais, talvez eu seja ingênua demais... mas sinto escorrer água dos
olhos quando vejo um cinema, símbolo da nossa cidade, marco da nossa juventude,
agredido gratuitamente, simplesmente pelo fato de estar ali, imóvel, não poder
se defender; sinto um aperto no peito quando vejo instrumentos que nos foram
ofertados como boas práticas, facilitadoras da mobilidade urbana, serem
covardemente destruídos. E ainda querem nos convencer de que o nome disto é
protesto. Eu protesto! Eu acho até que chamar de vandalismo é premiar complacentemente
tais atos...
Talvez eu seja
romântica demais, talvez eu seja ingênua demais... mas tenho saudade de quando,
de fato, a ideologia era o mote, a vontade de lutar pelo que é mais justo não desprezava
o respeito, o que é certo, não desconhecia o dever a que compete cada um. Tenho
saudade de quando Vandré nos convidou a cantar, idos atrás, e seus primeiros
versos nos convidavam, suavemente, a caminhar, cantando, seguindo a canção,
pedindo igualdade, estivéssemos juntos ou não, em todos os campos, em todo o
tipo de organização, mas sem escárnio, sem deboche, sem ofensa, e com
propósito, com verdade, com decência, com essência.
Talvez eu seja
romântica demais, talvez eu seja ingênua demais... mas se a juventude representa
o futuro, boa parte dela tinha mais era que dar um pulinho no passado e
aprender, e viver, o real significado de luta, de democracia, de liberdade de expressão,
de justiça, de igualdade, de direitos, de deveres, de respeito... Se a
juventude que foi às ruas ontem representa o futuro, prefiro ficar no meu
passado saudosista, cujos jovens viveram agruras, sofreram punições severas, perderam
vidas, até, mas que não poderão jamais ser julgados por covardia, por ignorância,
por desrespeito, por vilania... Esta juventude que vi ontem... a minha cidade não
precisa dela, o meu estado não precisa dela, os cariocas e fluminenses não precisam
dela, os paulistanos não precisam dela, os capixabas não precisam dela, os
soteropolitanos não precisam dela, os mineiros não precisam dela, os candangos não
precisam dela... o meu país não precisa dela... Contra esta juventude que vi
ontem e que temos visto todos os dias país afora, Eu Protesto!