quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Eu protesto...

Talvez eu seja romântica demais, talvez eu seja ingênua demais, mas...


Talvez eu seja romântica demais, talvez eu seja ingênua demais... mas não consigo compreender por que as pessoas vão às ruas, dizendo lutar por direitos, mas se esquecem dos seus deveres. Não consigo entender como se destrói algo que é de uso próprio. Não consigo aceitar que destruam patrimônios antes tão exigidos como direito de todos. As pessoas lutaram a vida inteira por democracia, por liberdade de expressão, mas não sabem como, de fato, se lida com elas. E não venham me dizer que a culpa é do Estado, que não lhes oferece condições de aprendizado. Certos exercícios são aprendidos dentro de nossas próprias casas, não dependem do ensino formal, não é obrigação do ambiente escolar. Fazendo uso da metáfora, eu costumo dizer que se tenho todos os dentes íntegros em minha boca, não uso prótese, é porque nunca respondi aos meus pais, porque jamais deixei de exercitar o respeito que me foi ensinado por eles, desde os tempos de eu menina.

Talvez eu seja romântica demais, talvez eu seja ingênua demais... mas tenho saudade de um tempo em que muitos sofreram punições, infelizmente, mas lutavam brava e limpamente por direitos, para serem ouvidos, para lerem Eça de Queiroz livremente num banco de praça. Tenho saudade de um tempo em que as pessoas iam às ruas mostrando suas faces, às vezes coloridas, mas jamais mascaradas.

Talvez eu seja romântica demais, talvez eu seja ingênua demais... mas sinto escorrer água dos olhos quando vejo um cinema, símbolo da nossa cidade, marco da nossa juventude, agredido gratuitamente, simplesmente pelo fato de estar ali, imóvel, não poder se defender; sinto um aperto no peito quando vejo instrumentos que nos foram ofertados como boas práticas, facilitadoras da mobilidade urbana, serem covardemente destruídos. E ainda querem nos convencer de que o nome disto é protesto. Eu protesto! Eu acho até que chamar de vandalismo é premiar complacentemente tais atos...

Talvez eu seja romântica demais, talvez eu seja ingênua demais... mas tenho saudade de quando, de fato, a ideologia era o mote, a vontade de lutar pelo que é mais justo não desprezava o respeito, o que é certo, não desconhecia o dever a que compete cada um. Tenho saudade de quando Vandré nos convidou a cantar, idos atrás, e seus primeiros versos nos convidavam, suavemente, a caminhar, cantando, seguindo a canção, pedindo igualdade, estivéssemos juntos ou não, em todos os campos, em todo o tipo de organização, mas sem escárnio, sem deboche, sem ofensa, e com propósito, com verdade, com decência, com essência.

Talvez eu seja romântica demais, talvez eu seja ingênua demais... mas se a juventude representa o futuro, boa parte dela tinha mais era que dar um pulinho no passado e aprender, e viver, o real significado de luta, de democracia, de liberdade de expressão, de justiça, de igualdade, de direitos, de deveres, de respeito... Se a juventude que foi às ruas ontem representa o futuro, prefiro ficar no meu passado saudosista, cujos jovens viveram agruras, sofreram punições severas, perderam vidas, até, mas que não poderão jamais ser julgados por covardia, por ignorância, por desrespeito, por vilania... Esta juventude que vi ontem... a minha cidade não precisa dela, o meu estado não precisa dela, os cariocas e fluminenses não precisam dela, os paulistanos não precisam dela, os capixabas não precisam dela, os soteropolitanos não precisam dela, os mineiros não precisam dela, os candangos não precisam dela... o meu país não precisa dela... Contra esta juventude que vi ontem e que temos visto todos os dias país afora, Eu Protesto!