...do que se trata, mesmo?
Camões dizia que o amor é
fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente.
Eu digo que se pode,
sim, enxergar sua fogueira e gemer com as marcas que deixa na gente.
Em I Coríntios, está escrito que mesmo que
se fale a língua dos homens, nada se é sem amor.
Mas, por que às vezes
ele passa tal qual um tornado, deixando marcas, causando dor?
Vinícius escreveu certo dia
que em tudo ao seu amor seria atento, e sempre e tanto.
Mas nem todos estão
preparados para tanta entrega e provocam no noutro o pranto.
Racionalizando, Djavan cantou que o amor é um grande
laço, uma armadilha.
Mas todos querem
nele se prender e no seu mar se perder, tal qual uma ilha.
Há quem diga que o
amor “é um furacão, que surge no coração sem ter licença pra entrar”.
Será que se
permitiria sua entrada se fosse sabido o estrago que por vezes pode causar?
Para Drummond, o amor é grande, cabe na
janela sobre o mar, na cama, no colchão.
Penso que às vezes ele
cresce tanto que não cabe no corpo inteiro, que dirá no coração!
Ouvi Bethânia dizer que vive a vida, a vida
inteira a descobrir o que é o amor.
Digo que dele só se
sabe, quando tudo muda de lugar, quando em noite fria se sente calor.
No dicionário, é masculino,
carregado de intensidade, é um nobre de fino trato.
Diz-se substantivo,
com múltiplos significados, mas é o mais concreto
de todo os abstratos.
O amor é o nome, o
debulhar dele é o verbo, o que o recebe é o particípio, diz-se o amado.
Feliz quem dele se
alimenta com reciprocidade, quem sozinho o experimenta é o condenado.
Quando partilhado se
mistura, ora se aquieta, é ternura, ora é desejo, volúpia, paixão.
Se segue só a sua
estrada, se transforma, vira desencanto, desalento, chama-se desilusão.
Ainda que dele se
fuja, é para ele que se corre, que se atravessa a madrugada.
Ainda que dele pouco
se entenda, por ele, ninguém se importa de percorrer a longa estrada.
Ainda que ele cause
desastres, traga agonias, faça alarde, nos arraste tal qual um tsunami,
Não há um ser nesta terra, seja na paz ou na guerra, que não tenha amado ou que não ame.