sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Amor...

...do que se trata, mesmo?


Camões dizia que o amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente.
Eu digo que se pode, sim, enxergar sua fogueira e gemer com as marcas que deixa na gente.
Em I Coríntios, está escrito que mesmo que se fale a língua dos homens, nada se é sem amor.
Mas, por que às vezes ele passa tal qual um tornado, deixando marcas, causando dor?

Vinícius escreveu certo dia que em tudo ao seu amor seria atento, e sempre e tanto.
Mas nem todos estão preparados para tanta entrega e provocam no noutro o pranto.
Racionalizando, Djavan cantou que o amor é um grande laço, uma armadilha.
Mas todos querem nele se prender e no seu mar se perder, tal qual uma ilha.

Há quem diga que o amor “é um furacão, que surge no coração sem ter licença pra entrar”.
Será que se permitiria sua entrada se fosse sabido o estrago que por vezes pode causar?
Para Drummond, o amor é grande, cabe na janela sobre o mar, na cama, no colchão.
Penso que às vezes ele cresce tanto que não cabe no corpo inteiro, que dirá no coração!

Ouvi Bethânia dizer que vive a vida, a vida inteira a descobrir o que é o amor.
Digo que dele só se sabe, quando tudo muda de lugar, quando em noite fria se sente calor.
No dicionário, é masculino, carregado de intensidade, é um nobre de fino trato.
Diz-se substantivo, com múltiplos significados, mas é o mais concreto de todo os abstratos.

O amor é o nome, o debulhar dele é o verbo, o que o recebe é o particípio, diz-se o amado.
Feliz quem dele se alimenta com reciprocidade, quem sozinho o experimenta é o condenado.
Quando partilhado se mistura, ora se aquieta, é ternura, ora é desejo, volúpia, paixão.
Se segue só a sua estrada, se transforma, vira desencanto, desalento, chama-se desilusão.

Ainda que dele se fuja, é para ele que se corre, que se atravessa a madrugada.
Ainda que dele pouco se entenda, por ele, ninguém se importa de percorrer a longa estrada.
Ainda que ele cause desastres, traga agonias, faça alarde, nos arraste tal qual um tsunami,
Não há um ser nesta terra, seja na paz ou na guerra, que não tenha amado ou que não ame.


terça-feira, 25 de setembro de 2012

Os Pretos que Colorem Minha Vida


Na minha paleta de pintura, não é o colorido que alegra a minha vida.
Tem verde, rosa, amarelo, tem toda cor que eu quero, mas o preto é a cor preferida.
Sou de pele negra, meu sangue é vermelho, olhos castanhos, os cabelos disfarçados.
Mas nas batalhas da vida, tenho três pretos guerreiros, que estão sempre do meu lado.

Floresci primeiro, sou quem inicia a rama, todos vieram depois de mim.
Mas como não há rosa sem cravo, logo germinaram, colorindo meu jardim.
São meus braços, minhas pernas, meu escudo e laço forte.
Se eu cair, me sustentarão, se eu duvidar e perder a direção, serão meu norte.

Hoje é dia de celebrar ao preto do meio, meu parceiro de longas datas.
Lembro-me de quando saíamos e dançávamos, vivíamos nas noitadas.
Costumávamos dizer: “_mamãe, hoje a noite é nossa, não nos espere chegar”.
“_Vamos dançar a valer e quem sabe até derreter, seremos apanhados de pá”.

São 40 anos vividos, aprendidos, batalhados, conquistados.
Formou sua linda família, uma mulher companheira, duas filhas, um lar consagrado.
O jeito moleque e o sorriso maroto de menino o perseguem por toda a parte.
Quando o chamam de preto, retruca: “Não sou seu preto. Chame-me meu chocolate!”

Sem ser bilíngue ou poliglota, com sua língua torta, foi na Escócia aportar.
Eu que falo meu francês, espanhol e inglês, nem para Noronha consegui viajar.
40 anos vividos, nenhum segredo escondido, muito sonho contido, projetos desenhados.
Desenrolado, desinibido, um exímio dançarino, vai construindo seu reinado.

Na minha paleta de cores, o preto é mais que forte, é cor que predomina.
Na minha infância teve pipa, pião, bola de gude, menos brinquedo de menina.
Tinha um preto traquino, agoniado, que em meu colo para eu cantar pedia.
E haja "boi da cara preta", e de tanto balançar com ele, era eu quem dormia.

Parabéns ao preto do meio, ao riso fácil que 40 anos completa.
Por muitos anos, vamos rir todos juntos, com luzes, fogos, alegria e muita festa.
Formamos um quarteto: 44, 43, 40, 39 anos de negritude colorida.
Tenho cunhadas amorosas, amigas preciosas, mas de irmã, eu juro, nunca senti falta na vida.


terça-feira, 18 de setembro de 2012

As músicas, os poetas e eu...

À luz de velas, acendo um incenso, abro uma garrafa de vinho.
Espalho meus discos na sala, não sei bem o que quero escutar.
Maysa rasga um “Ouça” em minh’alma; Nelson me apunha-la a flor e o espinho.
 Tom me afaga o peito, meio desafinado, Vinícius diz: eu sei que vou te amar.

João diz: não se apaga a memória da pele; Roberto aconselha: tente esquecer.
Perdida, deixo-me levar por Chico e grito eu te amo, com todo o sentimento.
Pois me disse certo dia o Aldir é preciso dar uma resposta ao tempo.
Inspirada em Nando, solto meus versos e este meu canto é dedicado a você.

Mais uma nota, outra letra torta, verto mais uma taça de vinho.
Meu companheiro é Cartola, que sem demora diz que o mundo é um moinho.
Caro leitor, não ria dos meus delírios, não quero que de mim deboche.
Posso ser a deusa do asfalto do Adelino, mas não o seu fantoche.

Sigo cantando e divagando nos desencontros que Represas me faz recordar.
Se Ângela me acende a fogueira, mergulho em Caymmi: é doce morrer no mar.
Findo a noite com Caetano, solto por aí, sozinho, cantando meu bem, meu mal.
Em Villa Lobos adormeço e das músicas me despeço numa melodia sentimental.


sexta-feira, 14 de setembro de 2012

As Tristes Rimas da Corrida Eleitoral


O horário eleitoral nos visita, entra e sai sem licença pedir.
Testa a nossa paciência, de um jeito sutil nos obriga a assistir.
É um vai-e-vem de novas caras, uma romaria de raposas insistentes.
Uns se arriscam debutando, outros arrastam seus descendentes.

Falar do outro é o mote, a nota primeira, o tema central.
Apresentar propostas para que, se o que vale a pena é “malhar o pau”?
Um acusa o Zé das Couves de não ter cuidado do lixo de sua cidade.
Esquece também que o povo é quem mais produz a sujeira da comunidade.

Gastam seu curto espaço de tempo tratando mal o oposto candidato.
Acabadas as eleições, aquele mesmo agredido se torna o maior aliado.
Subestimam a inteligência do povo, duvidam do seu conhecer.
Nem atinam que em suas falas combinadas lhes falta muito saber.

João das farinhas afirma que fez o céu, a terra e promove o ar.
Manoel da padaria diz que o mar foi da gestão dele e se ele quiser manda secar.
Antônio entra na briga, acusa de preconceito a atual gestão.
O coitado nem se dá conta de que ele próprio levanta a bandeira da segregação.

Uma coisa fica clara: sobre gestão do tempo ninguém tem competência.
Entram no ar para acusar uns aos outros, se desdobram em incoerência.
Não trazem suas propostas, não apresentam o que desejam fazer.
Perdem a chance de chegar ao coração do povo, de "se autopromover".

Candidatos da minha cidade mostrem ao povo uma história diferente.
Usem sua propaganda, que para nós foi imposta, de forma mais inteligente.
E não venha me dizer, Sr. José, que estas rimas foi você quem as escreveu.
Não banque o esperto comigo, pois bato o pé e tenho dito: este texto é meu.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Estou Cansada...

O caminho é longo, sem destino corre a estrada, mas eu... eu estou cansada...


Na vida se aprende que se deve o bem praticar.
Ser altruísta, dividir o pão, as dores do outro acalentar.
Deve-se agir com pureza d’alma, deixar-se guiar pelo coração.
Não exigir nada em troca, exercitar sempre o perdão.

O caminho é longo, sem destino corre a estrada, mas eu... eu estou cansada...

A vida testa os limites, busca os verdadeiros sentimentos.
Mas cada um sabe de sua angústia, o que lhe arde por dentro.
O cansaço reclama para si o desejo de ver-se também cuidado.
O corpo emite um grito silencioso: ‘eu também quero ser amado’.

O caminho é longo, sem destino corre a estrada, mas eu... eu estou cansada...

Eu estou cansada... de compreender, estou cansada de aceitar.
Estou cansada de ser condescendente, estou cansada de ter que agradar.
Estou cansada de esperar que o conforto alheio me traga um instante de alegria.
Estou cansada de ter que dar o meu abraço e não ter um aconchego ao fim do dia.

O caminho é longo, sem destino corre a estrada, mas eu... eu estou cansada...

Estou cansada de cuidar, de ter que entender, de ser paciente.
Às vezes, também quero colo, eu também sinto, existo, sou gente.
Estou cansada de ouvir em silêncio, e o que sinto ter que calar.
Estou cansada de curar no outro as feridas, enquanto as minhas se vão a sangrar.

O caminho é longo, sem destino corre a estrada, mas eu... eu estou cansada...

Estou cansada de estender a mão e do outro lado nada encontrar.
Quero agora dividir, meu desejo é partilhar.
Estou cansada de ser a amiga, sempre pronta a atender numa hora qualquer.
Quero ser a companheira admirada, a amante desejada, quero ser a mulher.





sábado, 1 de setembro de 2012

Setembro... sinais de uma nova era


Eu gosto de setembro: leva para longe as mazelas de agosto.
Eu gosto de setembro: suas flores trazem esperança, afasta o desgosto.
Em setembro, predominam os virginianos, chegam também os de libra.
Em setembro, brotam as sementes, os ventos se acalmam, a natureza se equilibra.

As pessoas de virgem me trazem alegria, especialmente aquela de quem sou raiz.
As de libra me encantam, me divertem, me seduzem, me fazem feliz.
A cunhada, os irmãos, a sobrinha, os primos, os caros amigos.
Não posso abraçar a todos em seu dia, mas em meu peito carrego todos comigo.

Eu gosto de setembro: finda o outono, se aproxima a primavera.
Eu gosto de setembro: traz no ar um recomeço, o início de uma nova era.
Em setembro nos preparamos para viver a estação das flores.
No Nordeste o sol brilha forte, nosso céu é mais azul, enxergamos novas cores.

Eu gosto de setembro: não para fazer um balanço do que se conseguiu até ali.
Eu gosto de setembro, porque nos inspira a olhar para frente, nos ajuda a seguir.
Em setembro se aproximam as festas, os projetos vão se concluindo.
Em setembro já avistamos o nascer de mais um ano, novos sonhos vão surgindo.

Eu gosto de setembro, embora me lembre de que logo mais terei nova idade.
Em setembro, já sinto o aroma de dezembro... que os 45 me tragam a felicidade.