quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Desassossego do Querer – Parte II: Completamente dominada...

Entregando-me a este querer que se agiganta e grita sua inquietude...


Há em mim uma inquietude que me sacode, me aferventa a alma, que me desconcentra.
Adormece comigo, me acorda aos primeiros raios de sol, no desjejum me alimenta.
E segue pelo dia, me cutucando de vez em quando, a toda hora se fazendo presente.
Não a quero por perto, não a peço que fique, mas ela chega e se aboleta, insistentemente.

Não controlo seu vai e vem, busco outra direção, mas quando menos espero ela aparece.
Tento desviar o pensamento, deixá-la no esquecimento, pego o terço, faço uma prece.
Por ora, ela me angustia, e diz que é para minha alegria, mas sinto ser meu martírio.
Outras vezes, vem toda faceira, me leva a pensar besteira, me convida ao delírio.

De vez em quando se materializa, fala comigo, me traz um sorriso, sua mão me acaricia.
Não é sonho, eu não estou dormindo, é sua voz me sussurrando uma doce melodia.
Mas nem sempre é assim tão mansa, é voraz, solta seu brado, me sacoleja inteira.
Meu corpo todo é quem sofre, os poros saltam arrepiados, acende em mim uma fogueira.

A inquietude tomou gosto, invadiu-me por completo, usurpou tudo o que é meu.
Sendo assim, não mais luto, mesmo com seu toque bruto, venha e tome posse do que é seu!
Não resistirei ao seu fascínio, entregar-me-ei aos seus domínios, ao que teremos por viver.
Jamais dirá que fui covarde, que tive medo do que arde, serei sua, em si quero me perder.


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O Desassossego do Querer...


Meu querer pode não ter nome, mas tem rosto, corpo e se avoluma em mim...


Meus pensamentos fervilham, há em mim um rebuliço, não sei o que dizer nem como traduzir.
Quero contar o que sinto, mas não sei descrever o que vai por dentro, nem o que é o meu sentir.
São tantos desejos guardados, tantas coisas por fazer, tanta vontade contida.
Estou explodindo por dentro, a alma toda se remexendo, querendo tudo da vida.

Rio sozinha diante do espelho: loucura? Devaneio? Traquinagem?
Às vezes, quando brinco, falo sério; outras vezes, quando séria, só penso bobagem.
Formiga em mim um desejo, fecho os olhos e vejo o meu delírio ganhar asas.
Em resposta, todo meu ser estremece, bambeia, amolece, meu corpo todo arde em brasas.

O meu interior sacoleja, o coração se bole todo, esbraveja, parece querer sair de mim.
É um não sei quê de desajuízo, uma coceira na imaginação, um querer que não tem fim.
Não importa o amanhã, o futuro não me interessa, se faz tarde, o meu querer é agora.
Não quero saber se a chuva cai, se a lua anoitece, o sol arde, se virá o romper da aurora.

Estou sonhando acordada, caminho sem destino, guiada por mãos que me chamam ao abraço.
Não sei ao certo a direção nem quero a rota deste chão, quero apenas seguir o compasso.
Quero me jogar no vazio, quero viver este momento até perder de vista o fim desta estrada.
Quero me lançar ao sabor do vento, deixar fluir o sentimento, me entregar e mais nada.



domingo, 11 de novembro de 2012

Escolhas

[O Pensador - Auguste Rodin]

O que são escolhas? O que será que a vida nos quer dizer quando nos propõe escolher? Por que nossas escolhas, às vezes, interferem no bem-estar de outras pessoas, e nem sempre nos damos conta disto? Por que muitas vezes escolhemos aquilo que nos faz ou fará sofrer?

As indagações são muitas. As indagações são minhas. As indagações vêm do que observo, do que sinto, do que vivi, do que tenho ouvido. As respostas? Eu não as tenho. As que tenho, não ouso deixar aqui. Até porque se baseiam em pressupostos não testados, na têm validade.

Certamente, escolhemos aquilo que imaginamos nos fará feliz. Todos no entorno sabem que não estamos felizes, que erramos em nossa escolha, que optamos pelo infortúnio. No entanto, o orgulho, talvez, nos mantenha cegos, nos deixe imóveis, de braço rígido. Pior do que errar nas escolhas, é nos depararmos com o engano, o engodo, a dissimulação, a mentira, e, ainda assim, permanecermos firmes em nosso orgulho. Tolice. Pequenez. Fraqueza...

O que ganhamos? Por que adiamos nossa libertação? Por que permanecemos enlameados na infelicidade? Por que enterramos nosso umbigo numa areia movediça na qual nós mesmos nos jogamos? Por que não aceitamos a mão que, insistentemente, intenciona nos salvar?

As indagações seguem. Elas também são minhas. Elas também são fruto da minha observação. Para elas, também não tenho resposta. Pior: sequer pressuponho respostas. Lamento por não tê-las. Entristeço-me por não alcançá-las. Sofro, até, por sabê-las insolúveis.

Certa vez me disseram que as escolhas mais acertadas são as feitas com o coração. Estou certa de que coração se engana. Infelizmente. Mas tenho cá minhas dúvidas se, em se descobrindo equivocado, ele resolva mudar o rumo da história e (des)escolher. Não. (Des)escolher ele não pode. Voltar atrás, nem sempre. Certas portas, uma vez fechadas, não se abrem mais. No entanto, entendo que, no que tange à dignidade, se perdida, ela deve ser urgentemente procurada, reencontrada, louca e teimosamente buscada. Oh, coração, tu te deixaste cegar a este ponto? Tu não percebes que estás sendo indigno de ti mesmo? Oh, coração, se és tu o responsável pelas escolhas, acordas! Voltas atrás! Lutas, coração! Lutas! Recupera a tua nobreza, a tua altivez! Reconhece o teu equívoco! Resgata, coração, enquanto ainda bates, o teu pulsar firme! Reúne o que te resta, coração, e te reconstróis, te reergues, te juntas novamente!

Julgamentos? Não te importes com eles, coração! Se bem pensares, já fostes julgado... e condenado. Cuida do que te resta! Ocupas-te de ti! Escolhes de novo! Desta vez, optas pela verdade, pelo amor que promove, pela felicidade! Não tenhas medo, coração! Se a ti cabe a escolha, abres tu o peito para ela e escolhes firme, sem olhar para trás, sem arrependimentos, miras, coração, no que, verdadeiramente, te fará feliz! Indagações? Continuarei perseguida por elas. Respostas? Seguirei buscando-as... Para o momento, é a minha escolha.


terça-feira, 6 de novembro de 2012

Natal e Ano Novo...


Meu momento de saudade...



Tenho saudade do Natal e Ano Novo dos meus tempos de juventude.
Tinham pessoas em volta da mesa; celebrávamos com festa, fartura e saúde.
Arrumávamos a casa, enfeitávamos os vasos de flores, pendurávamos lâmpadas coloridas.
Desembalávamos novas cortinas, toalhas de mesa, jogos de cama, roupa nova, nova vida.

Tenho saudade do Natal e Ano Novo, dos abraços sinceros, dos desejos trocados.
Nossa mesa era farta, nossa casa visitada, gente chegando por todo lado.
Discos tocando na vitrola, música boa para ouvir, cantar e dançar.
Preparávamos os incensos, chamávamos as boas energias para o ano que iria começar.

Tenho saudades do Natal e Ano Novo, das pessoas que não estão mais aqui.
Esta é a hora mais triste: não poder abraçar quem se foi, não poder vê-los sorrir.
O mundo gira, os costumes vão se perdendo, perde-se o sentido da comunhão.
Em minha memória guardo aqueles dias, que jamais sairão do meu coração.

Tenho saudade do Natal e Ano Novo dos meus tempos de menina.
Tudo parece distante, nada é mais como antes, mas tudo é vivo em mim ainda.
Naquele tempo éramos seis, tal qual romance de José Maria Dupré.
Nossa casa era simples, mas amor não faltava e alegria era tudo que se podia ver.

Meu Natal e Ano Novo tinham a casa mais alegre e mais comentada da rua.
Reuníamos os amigos, dançávamos a noite inteira, víamos o nascer do sol, o cair da lua.
Ensaiávamos uma cantoria, brindávamos ao novo dia, vivíamos um tempo de paz.
Hoje me resta a saudade de momentos de muita harmonia, de um tempo que não volta mais.