Entregando-me
a este querer que se agiganta e grita sua inquietude...
Há em mim uma inquietude que me sacode, me aferventa a alma, que me
desconcentra.
Adormece comigo, me acorda aos primeiros raios de sol, no desjejum me
alimenta.
E segue pelo dia, me cutucando de vez em quando, a toda hora se fazendo
presente.
Não a quero por perto, não a peço que fique, mas ela chega e se
aboleta, insistentemente.
Não controlo seu vai e vem, busco outra direção, mas quando menos
espero ela aparece.
Tento desviar o pensamento, deixá-la no esquecimento, pego o terço,
faço uma prece.
Por ora, ela me angustia, e diz que é para minha alegria, mas sinto ser
meu martírio.
Outras vezes, vem toda faceira, me leva a pensar besteira, me convida
ao delírio.
De vez em quando se materializa, fala comigo, me traz um sorriso, sua mão
me acaricia.
Não é sonho, eu não estou dormindo, é sua voz me sussurrando uma doce
melodia.
Mas nem sempre é assim tão mansa, é voraz, solta seu brado, me sacoleja
inteira.
Meu corpo todo é quem sofre, os poros saltam arrepiados, acende em mim
uma fogueira.
A inquietude tomou gosto, invadiu-me por completo, usurpou tudo o que é
meu.
Sendo assim, não mais luto, mesmo com seu toque bruto, venha e tome
posse do que é seu!
Não resistirei ao seu fascínio, entregar-me-ei aos seus domínios, ao
que teremos por viver.
Jamais dirá que fui covarde, que tive medo do que arde, serei sua, em si quero me perder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário