terça-feira, 21 de março de 2017

No Auto da Vida Real, nos salvem Jesus e a Compadecida...

Eu e minhas prosas com o filho de Taperoá...

Fonte: [www.wordpress.com]


_Mestre Ariano... vamos confabular um bocadinho?

_Diga lá, essa menina! O que é que há?

_Professor... eu acho que estou adiantando a idade e ficando rabugenta, perdendo uma das minhas características mais fortes (a paciência) com certas coisas que ando a observar...

_Oxente, criatura, me conte o que sucede por aí! De repente, eu escrevo um auto celestial e lhe mando em sonho num boi voador, pra você atravessar esta cidade, que nem nos tempos de Nassau...

_Espie só, mestre: na política, o senhor já sabe. Creio eu que as notícias correm nos jornais celestiais no mesmo tanto de velocidade que jegue em desabalada carreira. O escárnio com os desvalidos é cada vez pior, os direitos conquistados vivem na mira dos rifles, a desgraceira está em toda parte. Até o pobre boi agora virou alvo da bandidagem. Não bastassem as pilhérias com seus cornos, ainda zombam de sua carne, que não está valendo nem um papelão. O frango, coitado... nem seu nobre peito tem mais valia, que dirá seus derivados! O leite tem creolina, a cerveja tem milho (menos mal, que pelo menos milho se come) e até a pobre paçoca teve sua virgindade violada. Por enquanto, pelo menos, o cuscuz ainda se salva!

_Vixe, essa menina! Eu fico aqui tão entretido com os colega do departamento de prosa, conto e poesia, que não estava nem me ligando na safadeza desse povo. É de pior para acabou-se, não é? Mas me conte mais!

_Afora isso, o desrespeito segue em ritmo de tufão. Está cada vez pior: ninguém respeita o idoso, o deficiente, a prenha... os professores, então, nossenhora! A mulher está cada vez mais sendo enquadrada nas prateleiras dos supermercados, sua única competência, dizem alguns. E se quiserem ter alguma coisinha na vida, ralem muito, mas se esqueçam da aposentadoria, pois este direito está prestes a lhe ser tomado. Aliás... aposentar por aqui só após morrer... aí o sujeito não vai ter como trabalhar mais, mesmo, né?

_Como é, essa menina? A aposentadoria não era um direito do trabalhador? Como agora se trabalha até cair os dentes? Eu tenho pra mim que o inferno subiu, tomou o rumo acima da terra... O tinhoso botou o caldeirão pra ferver e está preparando a sopa... só pode!

_É, mestre... o senhor não sabe da missa um rosário! Se a Compadecida aparecer por aqui terá um enorme trabalho na hora de fazer a defesa dos condenados... E desta vez o dito estará mais do que provado: só Jesus salva! É certo que ainda tem gente de bem, querendo construir o melhor, que ainda pensa no seu semelhante, que promove a paz... O Francisco, por exemplo, é um deles. Está à frente do Vaticano, olhando-nos a todos como um só, independente do credo, da opção de vida, dos anseios e pecados... Este segue os Mandamentos e nos incita a amar o outro como a nós mesmos. E tem muitos outros, de outros ritos até, nos ensinando o caminho do bem... talvez o rebanho ainda tenha salvação, quando tiver que cumprir a sua sentença.

_Ah, pelo menos isso, essa menina. O encontro com o único mal irremediável é certo para todos nós, ninguém escapa. Eu mesmo sou prova viva... Eita... sou prova morta dele.

_Mas, além de tudo o que estamos vivendo, das guerras do mundo, daquelas internas, ainda temos que exercitar a complacência, até com os mais próximos... porque a inveja, ah, mestre Ariano... oh, coisinha que roda o mundo e permanece igual! Tanto que Jesus ensinou e o povo, ao invés de buscar seu crescimento, quer azedar a conquista do outro, só porque não alcançou o mesmo. Pode isto, professor? Já não nos basta a dureza da conquista, e a gente ainda tem que benzer tudo o que tem para não murchar com os olhos gordos dos sugadores de energia? Valha-me, Nossa Senhora, mãe de Deus de Nazaré! É demais, né, não?

_É... tem gente que vive de olho no alheio só pelo prazer de querer o mesmo e provar para o outro que também tem. Não se lembra daquele episódio em que aquela senhora achou que eu conhecesse a Disneylândia e soubesse o que era o vídeo sound boris volcane? Ela achava que todo mundo tinha que ser igual pra viver no meio dela, e não conhecer a Disneylândia ou ter um vídeo daquele tipo era algo imperdoável... Homem, se eu me importava lá com quem conhecia o que quer que fosse ou tivesse qualquer porqueira diferente das dos outros!

_Então, não é, mestre? A coisa está indo de mal a pior. O rico humilhando o pobre é coisa antiga, a gente não se admira mais de nada, como costumava dizer Chicó. Mas o pior é pobre invejando o lascado. É tanta inveja, tanta inveja, que eu não duvido que um pobre inveje o outro só porque tem mais remelentos do que ele e, por consequência, mais cartões do Bolsa Família! Eu só estou essa! É como o senhor diz, nas palavras de João Grilo: _É demais!

_Repare bem, essa menina... pelo que você me conta, dá até para montar um auto... maior do que aquele meu, que você conhece bem. Você pode até escrever, se quiser, eu lhe dou a carta branca. Basta apontar onde estão a simonia, o estelionato, incitação à concupiscência, velhacaria, arrogância com os pequenos, subserviência com os grandes, ausência total de coleguismo, intolerância religiosa, de gênero, profanação do nome de Deus... acrescentando desta feita a inveja. Personagens não lhe faltarão, já que podem ser encontrados em qualquer tipo de instituição e até no meio do povo. Eu só lamento que eles sejam reais e que o auto não seja uma simples obra de ficção. Eu desejo que a Compadecida consiga salvar alguns deste rebanho de condenados... porque desta vez... o diabo estará com a corda toda, carregado de argumentos quase indestrutíveis...

_Mestre... está difícil, mesmo. Eu penso, penso, e não me sai um clarão de entendimento, como diria João Grilo. Até o Capitão Severino estaria de mãos atadas, a sua papo amarelo não daria conta. A peixeira de Vicentão... vixe! Não passa de uma faca de pão, tamanha é a balbúrdia, o excesso de absurdo que se dá por cá.

_Mas violência não é a solução, essa menina. Isto é coisa dos “Bolsonadas” da vida, e nos iguala a todo esse rebanho de condenados. O causo é mesmo de aumentar a fé, e seguir firme nas suas convicções de amor e respeito ao seu semelhante. Se quiser se aliviar um tantinho pense nas lorotas de Chicó e acalme o coração... Reze à Compadecida, para que haja uma saída justa para todos... e que ela volva seu manto de amor sobre os inocentes, sobre os que perdem a vida, sobre os que sofrem injúrias, perseguições, ameaças... sobre os que choram a morte dos seus, sobre os que sofrem violências, sobre os que padecem com a miséria... sobre os que ‘secam’ a vida alheia...

_ É, mestre, Ariano... a arte vive imitando a vida, embora o que vivemos seja por demais real, e não mera coincidência...

_Não se amofine, não, essa menina! No final de tudo, vai ser como Deus quer... Eu não sei como... só sei que será assim...

segunda-feira, 6 de março de 2017

Prazer, Eu Sou Mulher!

Especialmente neste mês de março, eu sou...

[Fonte: http://www.mensagens10.com.br/mensagens-dia-da-mulher]

Eu sou Olga Benário, mas também sou conhecida por Lou Salomé, Simone de Beauvoir. Às vezes sou Anita Malfatti, Raquel de Queiroz, Lya Luft, Luzilá Gonçalves... Eu sou Patrícia Galvão, ou Pagu, para os que me têm intimidade, mas posso ser Florbela Espanca, Cecília Meireles, Carmem Miranda, Leila Diniz, Maysa, Elis Regina, Dalva de Oliveira... se assim eu quiser. Tens dias que sou Clarice Lispector, Donna Tartt, Marian Keyes, Cora Coralina, Zélia Gatai, Maria das Dores, simplesmente Maria ou Maria José...

Sou gata borralheira, dama da corte, marquesa, princesa, a cortesã, a meretriz... Outros dias sou Anita Garibaldi, Dandara dos Palmares, Maria Bonita... sou Maria Camarão, Maria Quitéria, Maria Clara e Joaquina (as guerreiras de Tejucupapo)... se me apoquentam o juízo, se me torcem o nariz.

Sou Chiquinha Gonzaga, namorando a lua branca. Sou Maria Bethânia, a dona do dom. Sou Cesária Évora, Tcha'm cantá-bo nh'amor Ô mundo, sou Lauryn Hill, calling Redemption song... Quando o desejo me invade, me transformo em Madame Pompadour, Madame Duplessis... para seduzir o meu amor. Sou as donas de casa, nos pegue-pagues do mundo, das letras do Raul. Sou Alice, perdida no tempo, sou a Dulcinéa do Quixote, pendurada num cata-vento, sou as 7 mulheres das batalhas do Sul.

Sou a diarista, a lavadeira, a médica, a cozinheira, a radialista, a professora, a bordadeira, a secretária, a merendeira, a diretora, a comissária de bordo, a mão diligente na construção civil... Sou a manicure, a operária, a advogada, a engenheira, a comportada, a maloqueira... Afrodite, Artemis, Athena... a mais bela das criaturas.. uma Gioconda como nunca se viu.

Sou a desportista, a estudante, a namorada, a amiga, a esposa, a companheira, a amante, a governanta, a governante... Eu sou o ontem, o hoje, sou o que sou e sempre serei... Sou tudo e mais um pouco, sou aquilo que eu quiser. Pouco importa se eu tenho um nome...

Prazer, Eu Sou mulher!