quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

A modernidade feriu de morte o 'que ficou no passado'...



Porque eu sou de outrora, seu moço...

 [Fonte: https://www.etsy.com/market/pierrot_doll]

O meu ‘tiro é este’... que dispara lirismo, poesia, versos docemente rimados... um bailado compassado, acompanhando a melodia do pau e cordas, dos banjos, dos clarins... vindas lá do idos de Capiba, de Raul e Edgar Moraes, Getúlio Cavalcanti... Chiquinha Gonzaga...

Porque eu sou de outrora, seu moço...

Amo o saudosismo e a poesia dos frevos de blocos, assim mesmo, ‘cansados e ultrapassados’, como se costuma dizer. Eu vibro ao entoar o Hino de Elefante, Pitombeiras, Ceroulas... Sinto agonia nos pés só de imaginar um acorde de Vassourinhas. Minha alma se alegra com o Voltei Recife, Evocação Número 1... com os verdadeiros Valores do Passado... e me desmancho em lágrimas só de ouvir na terça-feira gorda o Último Regresso...

Respeito a suas preferências, não vou impor o meu querer ao seu nem ‘vou jogar na sua cara’, nem ‘tacar bebida e mais não sei o quê’. Não sou ‘malandra’ e o único 'lepo-lepo' que conheci foi apenas aquele recado ameaçador da minha mãe, diante das raras traquinagens... E se você me diz: ‘Vai passar mal...’, eu passo mesmo, afinal quem me ‘nocauteou, nocauteou’ foi o mau gosto, vindo de um miado desafinado de uma gata com mania de ser cantora...

Perdoe-me, seu moço, mas eu sou mesmo é de outrora...

Da modernidade que destila decadência, que maltrata a poesia, macula a inocência... e tantas outras coisas que embrulham o estômago, machucam os ouvidos e aniquilam a cultura de um povo... eu quero distância, dela corro léguas...

Porque eu não sou moderna, seu moço... vivo neste passado que me encanta, e cada vez que o revisito, passo, com certeza, os melhores dias do ano por lá... 

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Empoderamento – “que tiro é este?”...

Empoderamento... parece até tema recente, um mantra da moda, equivocadamente proferido em qualquer esquina... Se é vivido em sua essência... aí é que são elas!

Fonte: [https://www.mulheresempreendedoras.net.br/empoderamento-das-mulheres/]


O empoderamento corre o mundo ao longo dos séculos...

Empoderada foi Frineia... que, mesmo tendo sua ideia sido rejeitada, uma vez muito rica, se ofereceu para reconstruir os muros de Tebas, destruído por Alexandre, o Grande, exigindo que fossem neles cravada a frase "Destruído por Alexandre, restaurado por Friné a hetaira", que quer dizer ‘cortesãs ou prostitutas sofisticadas’.

Empoderada foi Marie Duplessis, que, de cortesã mais cara de Paris, se tornou condessa. Empoderadas foram Chiquinha Gonzaga, Olga Benário, Anita Malfatti, Pagu, Guiomar Novaes, Yolanda Penteado, Maysa, as heroínas de Tejucupapo (Maria Camarão, Maria Quitéria, Maria Clara e Joaquina), Lou Salomé, Frida... Empoderada foi Dandara, que lutou pela liberdade dos negros junto ao seu amado, Zumbi dos Palmares. Empoderada foi Joana D’Arc, que ardeu em chamas, mas não negou a sua fé. Empoderada foi Dona Netinha, primeira mulher a presidir um maracatu – Maracatu Rural Cruzeiro do Forte...

Empoderada é Elba Ramalho, que começou a fazer sucesso exibindo o seu cabelo de fuá. Empoderada é Maria Bethania, que se apresenta de pés descalços, mandando o seu Grito de Alerta nos mais ilustres palcos mundo afora. Empoderada é Ana Carolina, que comanda uma ruma de Bicudos, arrasando no cajón. Empoderada era Clara Nunes, que, com o Canto das Três Raças, pela quebra das correntes, não se intimidava em levar a cultura africana representando a sua religião, em ritmos, dança e vestimentas. Empoderada é Maria da Penha, que, em nome da luta pelo fim da violência contra a mulher, deu nome a uma lei.

Empoderado é Ney Matogrosso, que com seu Sangue Latino nunca camuflou suas escolhas debaixo de Secos e Molhados. Empoderado era Cazuza, que mesmo acometido por doença fatal, escancarou a voz a pedir que o Brasil mostrasse a sua cara. Empoderado era Renato Russo, que, se vivo fosse, agora mais do que nunca, estaria perguntando: Que País é Esse? Empoderado era Freddie Mercury, que pedia I want to break free, posando de doméstica. Empoderado era Michael Jackson, que reuniu os artistas, em nome dos irmãos africanos, os fazendo compreender que We are de World. Empoderado é Andy Bell, que, com seu talento, voz e graça pede apenas I Little Respect. Empoderado é Zé Ramalho, que, de certa forma, viveu o que carrega em sua poesia – Garoto de Aluguel. Empoderados são Thomas Hitzlsperger, Robbie Rogers, David Testo, Oswaldo José Henríquez Bocanegra, Richarlyson, que defendem os seus times e até suas seleções na condição de homossexuais, em gramados onde impera a ‘macheza’.

Empoderar-se não é impor um talento que não se tem, fazendo-nos “passar mal”, ficar completamente “nocauteados”. Empoderar-se não é se desnudar “malandramente”, num “tiro” de vulgaridade, confirmando o estereótipo de determinada condição social.


Empoderadas são nossas mães, avós, tias, primas, cunhadas... somos eu e você, que estamos sempre em busca por quebrar regras, ditar novos padrões, ousar, revolucionar... sem perder nossos valores, sem nos despirmos de nossas virtudes, sem nos jogarmos à decadência do ser...

O mais acertado tiro, entendam, é este!