quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A (des)infantilização nos tempos modernos...

Do que ando lendo (e vendo) pelas redes sociais e dos diálogos que tenho ouvido, resta-me um convite à reflexão...

[Fonte: http://wata-eh-legal.blogspot.com.br/2007/09/brincadeiras-em-grupo.html]

Em meu tempo de criança, não dispúnhamos de tanta tecnologia, os nossos brinquedos eram muitas vezes por nós mesmos construídos. As pipas, os carrinhos de madeira, patinetes, bonecas de pano, bolas, barquinhos de papel... Brincávamos e cultivávamos nosso jeito moleque, às vezes arteiro, mas sempre carregado de inocência. As competições eram os jogos com bolas-de-gude, virar figurinhas (o velho bafo), jogar pião; jogávamos dominó, ludo, tabuleiro de damas; fazíamos jogos de vocabulários, como o famoso “nome, lugar, fruta, animal, objeto...”; brincávamos de barra-bandeira, queimado, seu rei mandou dizer, pique-esconde... Também fazíamos nossas artes, é verdade. Quem nunca tocou uma cigarra e correu léguas para não ser descoberto? Quem nunca roubou uma fruta do quintal daquela senhora ranzinza que vivia sozinha, rodeada de bichos? Em todos os lugares tinha uma casa com alguém assim... Quem nunca chutou uma lata enquanto alcançava o caminho de casa? Quem nunca fugiu de um castigo para juntar-se aos amigos nas brincadeiras de rua (e levou uma pisa depois...)? Quem nunca?

Em meu tempo de criança, não tínhamos computadores, não sabíamos o que era o videogame. Nossas bolas eram as mais simples, as nossas bonecas eram as Wanderleias, com o cabelo de fuá... Saudade dos carrinhos de rolimã, do conjunto de panelinhas, das pipas feitas com papel de seda e tiras de coqueiro... Na televisão, curtíamos o programa Vila Sésamo, o Sítio do Pica-pau Amarelo, a TV Globinho... Os nossos shoppings eram os zoológicos, os parques de bairro, os circos de lona montados num campo de futebol de várzea, as praças das cidades, os quintais das casas de nossos avós. Não tínhamos Ipod, Mp5, Itunes... Não vivíamos tirando fotos aqui e ali... só nos aniversários ou para a carteira de estudante... Nossas cantigas se davam no gogó, durante as brincadeiras de roda, nos bate-papos nas calçadas, nas festas da escola...

Em meu tempo de criança, cupcake era o bolo-de-bacia; tomávamos mais sucos e caldo de cana do que refrigerante; ao invés de brownies, cookies e trufas, nos deliciávamos com o doce japonês, o pirulito de caramelo no tabuleiro, o alfenim daquele moço, perto da roda gigante... o cavaquinho, que, no fundo, não tinha gosto de nada, mas todo mundo ficava louco quando o “homem do cavaquinho” passava tocando seu triângulo. E o que dizer do bife com batatas, arroz e feijão das nossas mães? Era um prato mais disputado que rodízio de pizza na promoção...

Em meu tempo, criança era... criança, ué! Nossa academia era a rua, as brincadeiras e traquinagens. Não desfilávamos em passarelas, as meninas não traziam em seus rostos angelicais maquiagens carregadas, não faziam bicos e poses para fotos (muitas vezes, antecipando uma sensualidade que sequer foi desabrochada)... Os meninos não usavam correntes ostentosas no pescoço, não se exibiam dançando músicas provocadoras de uma virilidade ainda desconhecida...

Em meu tempo de criança, costumávamos fazer as refeições com a família inteira, todos sentados em volta da mesa. Respeitávamos os mais velhos, cumprimentávamos mais as pessoas, pedíamos “a benção” aos nossos pais, avós, tios, padrinhos... Silenciávamos se os adultos estivessem falando... aliás, nosso lugar nem era perto das conversas deles. O pré-requisito para irmos a uma festa era ouvir uma palestra sobre regras de comportamento: “não me peça nada; se lhe oferecerem, você não quer; não mexa em nada; não diga se estiver com fome; não corra; não coma doce antes do ‘parabéns’; é pra chamar os adultos de senhor e senhora, ouviu?”... E era tão bom obedecer... podia até gerar recompensas...

Ah, meu tempo... éramos, de fato, criança... vivendo cada passo, cada fase, crescendo, adolescendo,  preparando o corpo e o espírito para a maior idade. As crianças do agora se ‘adultam’ antes mesmo de viver a alegria do adolescer... Pior: são amparadas e até moldadas pela irresponsabilidade e falta de sensibilidade de ‘pailermas’ e ‘mãesdiocas’... completamente vazios de bom senso, de amor verdadeiro, e frustrados em seus desejos irrealizados. É preciso estar atento... de nada adiantará o lamento... Se não for vivida em sua plenitude, a idade da inocência não será sabida e não adianta chamá-la de volta... seu clamor não será mais ouvido... Reflitamos!