[Fonte: http://wata-eh-legal.blogspot.com.br/2007/09/brincadeiras-em-grupo.html]
Em meu tempo de criança, não dispúnhamos de tanta tecnologia, os nossos
brinquedos eram muitas vezes por nós mesmos construídos. As pipas, os carrinhos
de madeira, patinetes, bonecas de pano, bolas, barquinhos de papel...
Brincávamos e cultivávamos nosso jeito moleque, às vezes arteiro, mas sempre
carregado de inocência. As competições eram os jogos com bolas-de-gude, virar
figurinhas (o velho bafo), jogar pião; jogávamos dominó, ludo, tabuleiro de
damas; fazíamos jogos de vocabulários, como o famoso “nome, lugar, fruta,
animal, objeto...”; brincávamos de barra-bandeira, queimado, seu rei mandou
dizer, pique-esconde... Também fazíamos nossas artes, é verdade. Quem nunca
tocou uma cigarra e correu léguas para não ser descoberto? Quem nunca roubou
uma fruta do quintal daquela senhora ranzinza que vivia sozinha, rodeada de
bichos? Em todos os lugares tinha uma casa com alguém assim... Quem nunca
chutou uma lata enquanto alcançava o caminho de casa? Quem nunca fugiu de um
castigo para juntar-se aos amigos nas brincadeiras de rua (e levou uma pisa
depois...)? Quem nunca?
Em meu tempo de criança, não tínhamos computadores, não sabíamos o que
era o videogame. Nossas bolas eram as mais simples, as nossas bonecas eram as
Wanderleias, com o cabelo de fuá... Saudade dos carrinhos de rolimã, do
conjunto de panelinhas, das pipas feitas com papel de seda e tiras de coqueiro...
Na televisão, curtíamos o programa Vila Sésamo, o Sítio do Pica-pau Amarelo, a
TV Globinho... Os nossos shoppings eram os zoológicos, os parques de bairro, os
circos de lona montados num campo de futebol de várzea, as praças das cidades,
os quintais das casas de nossos avós. Não tínhamos Ipod, Mp5, Itunes... Não
vivíamos tirando fotos aqui e ali... só nos aniversários ou para a carteira de
estudante... Nossas cantigas se davam no gogó, durante as brincadeiras de roda,
nos bate-papos nas calçadas, nas festas da escola...
Em meu tempo de criança, cupcake era o bolo-de-bacia; tomávamos mais
sucos e caldo de cana do que refrigerante; ao invés de brownies, cookies e
trufas, nos deliciávamos com o doce japonês, o pirulito de caramelo no
tabuleiro, o alfenim daquele moço, perto da roda gigante... o cavaquinho, que,
no fundo, não tinha gosto de nada, mas todo mundo ficava louco quando o “homem
do cavaquinho” passava tocando seu triângulo. E o que dizer do bife com
batatas, arroz e feijão das nossas mães? Era um prato mais disputado que
rodízio de pizza na promoção...
Em meu tempo, criança era... criança, ué! Nossa academia era a rua, as
brincadeiras e traquinagens. Não desfilávamos em passarelas, as meninas não
traziam em seus rostos angelicais maquiagens carregadas, não faziam bicos e
poses para fotos (muitas vezes, antecipando uma sensualidade que sequer foi
desabrochada)... Os meninos não usavam correntes ostentosas no pescoço, não se
exibiam dançando músicas provocadoras de uma virilidade ainda desconhecida...
Em meu tempo de criança, costumávamos fazer as refeições com a família
inteira, todos sentados em volta da mesa. Respeitávamos os mais velhos,
cumprimentávamos mais as pessoas, pedíamos “a benção” aos nossos pais, avós,
tios, padrinhos... Silenciávamos se os adultos estivessem falando... aliás,
nosso lugar nem era perto das conversas deles. O pré-requisito para irmos a uma
festa era ouvir uma palestra sobre regras de comportamento: “não me peça nada;
se lhe oferecerem, você não quer; não mexa em nada; não diga se estiver com
fome; não corra; não coma doce antes do ‘parabéns’; é pra chamar os adultos de
senhor e senhora, ouviu?”... E era tão bom obedecer... podia até gerar
recompensas...
Ah, meu tempo... éramos, de fato, criança... vivendo cada passo, cada
fase, crescendo, adolescendo, preparando
o corpo e o espírito para a maior idade. As crianças do agora se ‘adultam’
antes mesmo de viver a alegria do adolescer... Pior: são amparadas e até
moldadas pela irresponsabilidade e falta de sensibilidade de ‘pailermas’ e
‘mãesdiocas’... completamente vazios de bom senso, de amor verdadeiro, e
frustrados em seus desejos irrealizados. É preciso estar atento... de nada
adiantará o lamento... Se não for vivida em sua plenitude, a idade da inocência
não será sabida e não adianta chamá-la de volta... seu clamor não será mais ouvido...
Reflitamos!