sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Saudando nosso tempo de criança...


... e a menina que mora em mim

No meu tempo de criança, não dispúnhamos de tanta tecnologia, os nossos brinquedos eram muitas vezes por nós mesmos construídos. Nossas pipas, nossos carrinhos de madeira, nossos patinetes, nossas bonecas de pano, nossas bolas e barquinhos de papel. Brincávamos e cultivávamos nosso jeito moleque, às vezes arteiro, mas sempre carregado de inocência. As competições eram os jogos com bolas-de-gude, virar figurinhas (o velho bafo), jogar pião; jogávamos dominó, ludo, tabuleiro de damas; fazíamos jogos de vocabulários, como o famoso “nome, lugar, objeto...”; brincávamos de barra-bandeira, seu rei mandou dizer e pique-esconde. Também fazíamos nossas artes, é verdade. Quem nunca tocou uma cigarra e correu léguas para não ser descoberto? Quem nunca roubou uma fruta do quintal do vizinho? Quem nunca chutou uma lata enquanto alcançava o caminho de casa? Quem nunca fugiu de um castigo para juntar-se aos amigos nas brincadeiras de rua? No meu tempo de criança, não tínhamos computadores, não sabíamos o que era o videogame. Nossas bolas eram as mais simples, as nossas bonecas eram as Wanderleias, com o cabelo de fuá. Saudade dos carrinhos de rolimã, do conjunto de panelinhas, das pipas feitas com papel de seda e tiras de coqueiro. Na televisão, curtíamos o programa Vila Sésamo, o Sítio do Pica-pau Amarelo, a TV Globinho... Os nossos shoppings eram os zoológicos, os parques de bairro, os circos de lona montados num campo de futebol de várzea, as praças das cidades, os quintais das casas de nossos avós. Não tínhamos Ipod, Mp5, Itunes. Nossas cantigas se davam no gogó, durante as brincadeiras de roda, nos bate-papos nas calçadas, nas festas da escola. No meu tempo de criança, cupcake era o bolo-de-bacia; tomávamos mais sucos e caldo de cana do que refrigerante; ao invés de brownies, cookies e trufas, nos deliciávamos com o doce japonês, o pirulito de caramelo no tabuleiro e o cavaquinho, que, no fundo, não tinha gosto de nada, mas todo mundo ficava louco quando o “homem do cavaquinho” passava. O bife com batatas, arroz e feijão da nossa mãe era mais disputado que rodízio de pizza na promoção. No meu tempo de criança, costumávamos fazer as refeições com a família inteira, todos sentados em volta da mesa. Respeitávamos os mais velhos, cumprimentávamos mais as pessoas, pedíamos “a benção” aos nossos pais, avós, tios, padrinhos... No meu tempo de criança, éramos, de fato, criança, se preparando para a idade adulta. Hoje, as crianças se tornam adultas antes do tempo e depois lamentam não poder mais voltar à idade da inocência. Neste dia especial, meus versos são dedicados às crianças da nossa época, mas, especialmente, à criança que fui e à criança que ainda sou, disfarçada numa fantasia de mulher.

A criança que mora em mim tem bichinhos de pelúcia, brinca de bonecas, de casinha.
A criança que mora em mim ainda é moleca e quer roubar frutas no quintal da vizinha.
A mulher que hoje sou ainda sonha com o brinquedo que nunca ganhou.
A mulher que me tornei ainda se entristece pelos projetos que não conquistou.

A criança que fui queria ser uma pessoa forte, decidida, desbravadora.
A criança que fui era sorridente, tímida, porém tagarela e sonhadora.
A mulher que vive em mim se mostra inocente, tem medo do silêncio e da escuridão.
A mulher que sou viveu as dores que sua criança jamais sentiu no coração.

A criança que mora em mim anseia em voltar um dia ao passado e viver tudo outra vez.
A criança que em mim adormece quer rever suas molecagens e fazer tudo que não fez.
A mulher que hoje sou me pede seriedade, firmeza e paciência exige de mim.
A mulher que me tornei levará as traquinagens de sua criança interior até o fim.


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