Tenho medo do
silêncio. Ele suscita distanciamento, desprezo, desafeto, desatenção. Tenho
medo do silêncio: lembra porta fechada, omissão de socorro. Tenho medo do
silêncio que grita a nossa pequenez, que nos apresenta o vazio, a escuridão.
Tenho medo do silêncio que nos nega o estender de uma mão. Tenho medo do
silêncio que não nos escuta, que não nos atende, que não nos responde. Tenho
medo do silêncio que se fecha ao diálogo, à oportunidade de se reencontrar em
sua própria voz.
O silêncio também pode não querer nada dizer. O
silêncio pode simplesmente desejar apenas estar em paz consigo mesmo. O
silêncio às vezes tem seus temores, e se protege, resguardando-se em si mesmo
de ter que viver, ele próprio, um atormentado silêncio.
Não há o que fazer, senão compreender. Não há o
que fazer, senão deixar o tempo correr. Não há o que fazer, senão esperar que o
silêncio se permita, se deixe levar pelo grito que o convida a ensaiar uma nova
voz.
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