quarta-feira, 17 de abril de 2013

Paradoxalmente eu...

Desmistificando-me... conversando comigo mesma a respeito do que sou


                                  (Foto: Art of Woman)

Eu gosto do que é simples. Também me atrai o sofisticado. Aprecio os lugares mais chiques, divirto-me tranquilamente no “espetinho” da esquina, à beira da calçada. Só não me cobre o exagero, nem de um lado nem do outro. Não vou tomar cachaça com os ‘pinguços’ desconhecidos ao amanhecer o dia, muito menos dividir mesa de bar com aquele ricaço que esnoba as pessoas e lhes falta com respeito.

Eu choro muito, com tudo, por tudo. Choro ao assistir novelas, quando ouço o hino nacional, quando meu time ganha uma partida difícil ou quando ele perde um campeonato. Choro quando recebo um elogio exacerbado e quando sinto saudades dos que não mais estão comigo. Choro por minha solidão, pelos sonhos perdidos, pelos desejos frustrados. Mas amo o meu riso e sei que contribuo demais para o sorriso alheio com o meu humor sempre presente, característica marcante. Ultimamente, rio até de mim.

Eu respeito os que têm pouco e precisam ter cuidado para não gastar o que não podem. Queria ter esta maestria. Eu compreendo a luta daqueles que não se fazem presentes nas esbórnias da vida, porque lá no outro dia têm aquela conta para quitar. Mas me angustio profundamente com a avareza, especialmente quando ela vem atrelada à indelicadeza, à falta de cuidado, de atenção com os outros. Pior ainda, quando os avarentos fazem disto uma bandeira e pilheriam aqueles que não pensam nem agem como eles.

Eu gosto de ser católica, reverencio os santos, os anjos, tenho amor por Jesus e Maria. Mas sinto as mãos de Deus esculpindo cada Orixá; orientando Buda no caminho da sabedoria, trazendo Ganesha para a proteção dos que o seguem. Eu converso com os amigos de luz e os sinto presentes em meus sonhos, na água que para mim fluidificam, ouço seus conselhos e sei o quanto preciso e devo aprimorar para ser uma criatura mais amada, ainda, pelo Pai. Mas não me agrada aquele que professa a sua fé como sendo a única, a mais correta, a plena de perfeição, que diz adorar um Deus que pune, que se vinga, e que condena os outros por não aderirem às suas crenças.

Eu sou extremamente curiosa. Gosto de saber de tudo um pouco e tenho a certeza plena de que não sei quase sobre nada e nunca vou alcançar a totalidade do saber. Eu gosto de transmitir o que aprendi e de aprender com os outros. Porém, eu me incomodo com quem não busca informações, com quem replica o que ouviu numa esquina qualquer, sem o mínimo de cuidado em conhecer as fontes, a verdade dos fatos, os vários ângulos da história.

Eu me entusiasmo pelo novo, pelos desafios, pelas descobertas. Mas me encanta o bom do passado. Há coisas que não passam... se aprimoram, mas suas raízes serão eternas. Eu não gosto de avião, mas tenho ainda o desejo de me lançar em altos voos. Eu aposto no que está quieto, acomodado, mas me dá um rebuliço por dentro e me remexo toda quando diante da possibilidade de mudança.

Eu tenho medo do escuro, me falta o ar o pagar das luzes. Mas a luz do sol me encandeia os olhos e é nas sombras que acalmo o olhar. Eu tenho receio pelo amanhã, mas não me vejo preparando o futuro, o hoje me atrai muito mais.

Eu gosto de música, de cantar e dançar loucamente com o som no volume máximo, mas me irrito com o barulho contínuo (daqueles do tipo bate-estaca), com barulho de telefone, com quem fala alto, com quem chama pelo nome aos gritos.

Eu já passei dos 40, mas nunca abandonei meu jeito menina. Ainda tomo banho de chuva no jardim do prédio, chuto latas de vez em quando, como no mesmo prato da adolescência. Não sonho com príncipes encantados, mas ainda espero viver aquele amor que carrego em mim desde os 11 anos. Ainda sinto frio na barriga, tremor nos lábios e fico nervosa a cada novo encontro.

Eu me entrego facilmente aos sentimentos e gosto de cuidar daquele que está ao meu lado... e sofro quando ele se vai... e sofro com o lugar vazio, pelo que deixei de fazer por ele, pelo que não poderei mais fazer... e sofro pelo coração desconsolado. Mas se por acaso consigo esquecer, nada fica, nem a sombra do rosto que o outro tinha... nem o desejo de rever... quando esqueço, eu simplesmente apago.

Eu sou assim... paradoxalmente eu... gosto do sol para dourar a pele e da lua, especialmente, a cheia, que me eleva a libido; gosto do dia, da noite, e desgosto dos dois em dias de solidão e agonia. Rezo a Nossa Senhora do Carmo, peço proteção a Oxum. Canto samba, bolero; danço rock e maracatu.

Eu sou assim... paradoxalmente eu... Menina no corpo de mulher, seriedade em meio ao escárnio. Choro copiosamente quando para mim não sorriem, e escondo o choro, se o riso for ao outro necessário.

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