domingo, 9 de junho de 2013

O Ventre Vazio

...a certeza de jamais conceber-te


Eu te esperei a vida inteira, sonhei contigo, te desejei, sem mesmo ter-te, até, te amei.
Eu te busquei por todos os cantos, sobrevivi a cada desencanto, por ti sempre esperei.
Eu quis a ti dedicar a minha vida, ansiei ficar acordada por horas perdidas velando o sono teu.
Eu fui até o infinito, preparei meu traje mais bonito, quis te embalar no colo meu.

Sempre foste meu sonho escondido, meu presente mais bonito, meu projeto de vida.
Não te ter comigo deixa meu peito sofrido, cala meu grito escondido, é a dor mais doída.
Em meus delírios, ensaiei para ti uma cantiga, nanei teu sono, meu abraço a ti ofertei.
Na madrugada troquei tuas vestes, um sorriso me deste, teu choro dengoso acalentei.

Ora te via sorrindo, imaginava-te um menino, saudável, astuto, correndo lépido e fagueiro.
Encantava-me por te sentir menina, com laços cor-de-rosa, seguindo meus passos o dia inteiro.
Por vezes queria os dois, de uma única tacada, nascidos sem hora marcada, bem assim.
Queria a surpresa da chegada, numa noite iluminada, como gotas de orvalho caindo em mim.

Meu sonho é cada dia mais distante, brilha ao longe como diamante, talvez a mim não pertença.
Desesperanço em tê-lo, de que adianta meu desvelo se nisto não mais tenho crença?
Sinto-me murcha por dentro, um doloroso lamento, uma saudade do que não vivi.
Uma tristeza que nunca sara, o ventre vazio que me desampara, o ser que não concebi.

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