...a certeza de jamais
conceber-te
Eu te esperei a vida inteira, sonhei contigo, te desejei, sem mesmo
ter-te, até, te amei.
Eu te busquei por todos os cantos, sobrevivi a cada desencanto, por ti
sempre esperei.
Eu quis a ti dedicar a minha vida, ansiei ficar acordada por horas
perdidas velando o sono teu.
Eu fui até o infinito, preparei meu traje mais bonito, quis te embalar
no colo meu.
Sempre foste meu sonho escondido, meu presente mais bonito, meu projeto
de vida.
Não te ter comigo deixa meu peito sofrido, cala meu grito escondido, é a dor mais doída.
Em meus delírios, ensaiei para ti uma cantiga, nanei teu sono, meu
abraço a ti ofertei.
Na madrugada troquei tuas vestes, um sorriso me deste, teu choro
dengoso acalentei.
Ora te via sorrindo, imaginava-te um menino, saudável, astuto, correndo
lépido e fagueiro.
Encantava-me por te sentir menina, com laços cor-de-rosa, seguindo meus passos o dia inteiro.
Por vezes queria os dois, de uma única tacada, nascidos sem hora
marcada, bem assim.
Queria a surpresa da chegada, numa noite iluminada, como gotas de orvalho
caindo em mim.
Meu sonho é cada dia mais distante, brilha ao longe como diamante, talvez a mim não pertença.
Desesperanço em tê-lo, de que adianta meu desvelo se nisto não mais
tenho crença?
Sinto-me murcha por dentro, um doloroso lamento, uma saudade do que não
vivi.
Uma tristeza que nunca sara, o ventre vazio que me desampara, o ser que não concebi.
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