sexta-feira, 13 de maio de 2016

O auto da vida real

Conversando em pensamento com Ariano...

[Fonte: www.youtube.com]

_Ariano, Ariano... meu eterno e saudoso mestre... Eu fico pensando se cá estivesses e criasses um auto, tal qual o da Compadecida, tendo como cenário a Câmara e o Senado...

_Olhe, essa menina eu teria dúvidas sobre quem faria o diabo. Tem tantas opções, quase tão reais quanto o próprio, não é? Mas acho que o enredo todo já está montado. Repare bem: está tudo lá – simonia, estelionato, incitação à concupiscência, velhacaria, arrogância com os pequenos – o povo –, subserviência com os grandes, em prol dos escusos interesses comuns, ausência total de coleguismo, e tudo isto capitaneado por uma ruma de promotores cachorros, premeditadores e réus de crimes inúmeros, travestidos de paladinos da moral e da ética. Falta nada mais, não. O que você acha, essa menina? Aquilo está uma desgraça só!

_Mestre... está difícil, mesmo. Mas acho que... primeiro, eu apelaria para o Capitão Severino, corria lá e gritava: _cadê você, Capitão, que não mete uma carrada de bala nas fuças destes cangaceiros de paletó e suas ‘Supremas’ volantes?

_É, mesmo. Aquilo é uma cambada de desordeiro, fingidores de moralidade. O meu João Grilo tinha lá as artimanhas dele, está certo. Mas eram até inocentes e promovedoras do riso frouxo. E no final de tudo, prevalecia o julgamento justo e, por sua força e fé de homem do povo, ele também era perdoado.

_ E Chicó, então, mestre! As lorotas dele não eram engodos para ludibriar os incautos, eram apenas gracejos para provocar o riso do povo, não era, não?

_Verdade, essa menina! Escute bem, eu sou capaz de lhe dizer que naquele rebanho de condenados não há sequer um que mereça o caminho do purgatório... e creio, também, que recebê-los não daria gosto ao cão. Daria, nada!

_ É, mestre, Ariano... A arte tenta imitar a vida, mas a história que estamos vivendo tem enredos e personagens tão extraordinária e cruelmente reais, que não há ficção capaz de atribuir mera coincidência em qualquer que seja a semelhança... O senhor não concorda?

_Essa menina, repare... eu lamento, mas não sei... só sei que é assim...

_ Só nos resta rezar à Compadecida, mestre...

Valha-nos nossa Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré! Um julgamento foi encomendado, mas não há um juiz inocente sequer. O que recolhe os autos tem crimes de responsabilidade, mas senta em cima dos seus dolos e acusa o outro de pé. Já vivemos ditadura, nos cassavam a opinião. Se falássemos, viveríamos a tortura, os algozes não tinham compaixão. Hoje o grito é liberto, mas a justiça foi violada, torturada a democracia. Valha-nos, minha Nossa Senhora, liberdade sempre... ainda que tardia!

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