quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Uma peleja de 'frever' os corações...

A mais simples forma de comunicação de nosso povo...

Fonte: [www.interne.com.br]

Quando o frevo começou a tomar forma, dos pés do povo pernambucano surgiam conversas ritmadas, diálogos acrobáticos, prosas saltitantes, e da inspiração dos nossos mestres compositores saíam melodias que eternizaram esta linguagem. E a briga foi grande. Cada um que tentasse se comunicar melhor, com alma, com o coração. Cada um que tentasse traduzir melhor a emoção ‘frevida’ de seu povo.

Getúlio Cavalcanti saltou de lá e perguntou: “Quem conheceu Sebastião, de paletó na mão e aquele seu chapéu”? Luiz Bandeira, não aguentou a distância e cheio de saudade gritou: “Voltei, Recife! Foi a saudade que me trouxe pelo braço. Quero ver novamente Vassoura na rua abafando, tomar umas e outras e cair no passo”? Clídio Nigro e Clóvis Vieira imaginaram que Olinda não poderia ficar de fora. Então soltaram o verbo: “...Olinda, quero cantar, a ti esta canção: teus coqueirais, o teu sol, o teu mar, faz vibrar meu coração de amor, a sonhar, minha Olinda sem igual, salve o teu carnaval!” Marambá e Aníbal Portela preferiram render homenagem às duas cidades fazendo ecoar: “Evoé! Evoé! O carnaval de Pernambuco é vibração, é o gozo, é o suco, graças ao frevo e à Federação”. Os Irmãos Valença não acreditaram, acharam que a alegria daquele povo era sonho e começaram a cantar: “Eu tive um sonho que durou três dias, foi um sonho lindo, sonho encantador...”

Nelson Ferreira não se acostumava com a modernidade, com a ideia de acabar com o corso, com o romantismo dos carnavais de clube, queria o passado de volta. Saiu com essa: “Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon! Cadê teus blocos famosos? Blocos das Flores, Andaluzas, Pirilampos, Apôis Fum, dos carnavais saudosos?” Edgar Moraes também relembrava os antigos carnavais: “...Pavão Dourado, Camelo de Ouro e Bebé, os queridos Batutas da Boa Vista, e os Turunas de São José. Príncipes dos Príncipes brilhou, Lira da Noite também vibrou, e o Bloco da Saudade assim recorda tudo que passou...”

Capiba, então, não deixou por menos. Mostrou que pernambucano é cabra da peste, que não veio neste mundo a passeio. Mandou, na lata, mostrando nossa força e tradição e se recusando a aceitar facilmente as injustas derrotas: “... e se aqui estamos cantando essa canção, viemos defender a nossa tradição e dizer bem alto que a injustiça dói: nós somos madeira de lei que o cupim não rói!” Luiz Bandeira tentou amenizar a situação, lembrando que tudo tem um dia para acabar e de lá cantou: “Oh! quarta-feira ingrata, chega tão depressa só pra contrariar...”? Mas o mestre João Santiago, que não estava nem aí, queria mais. Assim, largou o verso e deixou o frevo rolar: “Eu quero entrar na folia, meu bem! Você sabe lá o que é isso! Batutas de São José, isto é, parece que tem feitiço... Deixa o frevo rolar, eu só quero saber se você vai brincar. Ai, meu bem, sem você não há carnaval. Vamos cair no passo e a vida gozar”.

E foi assim... é assim, assim sempre será. Esta é a nossa mais bela e prazerosa forma de comunicação. Alguns mestres se foram, outros vivem entre nós, novos surgem, e todos continuam embalando nossa memória, reescrevendo a nossa história, fazendo pulsar os corações, ‘frever’ os nossos pés, criando novas formas de expressão, mantendo viva a linguagem do nosso povo, que fala com o corpo, com a alma e o coração.

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